A frase de Jung e a relação entre terapeuta e paciente

Uma relação de alma para alma, de pessoa para pessoa

Guilherme Ramos
3 min readSep 22, 2020
Carl Gustav Jung dando um sorriso maroto pra gente.

A frase de Carl Gustav Jung “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”, vira e mexe é compartilhada e agora entendo o porquê.

Aceitar é uma condição fundamental, na terapia e na vida, para mudar e evoluir. O paciente que aceita quem ele é — seus pensamentos, crenças, emoções e comportamentos –, dá o primeiro passo para a mudança e desenvolve uma postura psicológica saudável.

Mas como o paciente consegue chegar nesse estado durante a terapia?

De fato, não é exatamente o que o terapeuta avalia, analisa e fala que faz o paciente mudar pensamentos, crenças, emoções e comportamentos — na verdade, o que o outro fala, expõe e mostra é sempre válido e isso se fará sempre necessário. Porém, é a autoconfiança, a empatia e a presença (100% da atenção) do terapeuta que cria um campo seguro para o paciente se expressar livremente, com segurança, confiança e coragem. E assim, sentindo que não é um objeto de estudo, mas apenas uma pessoa vulnerável como o terapeuta também é, ele (paciente) passa a aceitar quem ele realmente é.

Carl Rogers escreveu: “Quanto mais um terapeuta considera o paciente como uma pessoa, tanto mais o paciente se aceita a si próprio”. Acredito que o inverso também é verdadeiro.

Para o desenvolvimento pleno da pessoa (aqui entende-se que “a vida plena é um processo, não um estado de ser; é uma direção, não um destino”), para que ela possa assumir seus pensamentos, crenças, emoções e sentimentos, e portanto, passe a ser ela mesma, o terapeuta deverá criar “não uma relação como a do cientista com o seu objeto de estudo, nem como a de um médico que procura diagnosticar e curar, mas uma relação de pessoa para pessoa”. Agindo assim, isso significa que “o terapeuta é autêntico, que não se esconde atrás de uma fachada defensiva, mas que vai ao encontro do paciente com os sentimentos que está organicamente a experimentar”.

Sabemos que a real mudança é de dentro para fora. Como terapeuta, é claro, promovo estímulos para que a pessoa tenha condições de descobrir novos caminhos. No entanto, em qualquer faceta da vida, entende-se que “o paciente compreende que pode optar por continuar a esconder-se atrás de uma fachada ou que pode assumir os riscos que envolve o fato de ser ele mesmo; que é um agente livre, detentor do poder de destruir o outro, ou de se destruir a si mesmo, senhor igualmente do poder de elevar o outro e de se elevar a si próprio”.

É dessa convivência de pessoa para pessoa que os elementos internos do paciente passam então a se mexer e ganhar novos conhecimentos. É desse ambiente confortável, seguro e humano que o relaxamento acontece, dando condições para o paciente levar para o mundo o que de bom sentiu dentro de si mesmo.

Em resumo, voltemos ao início deste texto: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

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Guilherme Ramos

Estudante de Psicologia e autor dos livros: "Alltruísmo", "Entre Janelas Mágicas" e “As Histórias do Sorriso” >>> https://linktr.ee/guiramos